Variabilidade na Taxa de Sudorese e na Concentração de Sódio no Suor de atletas

por | out 16, 2025

Durante o exercício físico, a perda de água e eletrólitos ocorre em consequência direta da sudorese termorregulatória, um mecanismo essencial para a manutenção da temperatura corporal. Em condições de alta intensidade, longa duração e ambientes quentes e úmidos, essas perdas podem atingir níveis significativos, levando a desequilíbrios hídricos e eletrolíticos capazes de comprometer o desempenho físico, a homeostase cardiovascular e a segurança do atleta. A crescente atenção ao papel da hidratação individualizada reflete o reconhecimento de que a taxa de sudorese (SR) e a concentração de sódio no suor ([Na⁺]) apresentam ampla variabilidade intra e interindividual, influenciada por fatores ambientais, fisiológicos, genéticos e metodológicos.

Apesar da relevância prática dos testes de suor na formulação de estratégias personalizadas de reposição de fluidos e eletrólitos, observa-se grande heterogeneidade nos protocolos empregados. As diferenças nos métodos de coleta — como corpo inteiro versus regiões localizadas —, na preparação da pele, no tempo de exposição, na temperatura ambiente e nos procedimentos analíticos utilizados para quantificação dos íons, introduzem variabilidade adicional que pode mascarar diferenças fisiológicas reais. Assim, compreender e controlar as fontes de variabilidade torna-se essencial para aprimorar a validade científica e a aplicabilidade prática desses testes no contexto esportivo.

A variabilidade intraindividual, mesmo sob condições experimentais controladas, é um fenômeno bem documentado. Estudos apontam flutuações diárias de 5 a 7% na taxa de sudorese de corpo inteiro e de 6 a 22% em medidas locais, dependendo da técnica empregada — como cápsulas ventiladas, adesivos absorventes ou bolsas de Parafilm-M. No caso da concentração de sódio, variações de 11 a 17% são observadas em coletas de corpo inteiro e de 5 a 16% em amostras locais. Em termos práticos, diferenças inferiores a 5% na taxa de sudorese ou 15% na concentração de sódio podem ser consideradas dentro da margem de flutuação fisiológica, não justificando ajustes significativos nas estratégias de reposição.

Outro aspecto relevante é a variabilidade regional. A taxa de sudorese pode variar até 360% entre diferentes regiões do corpo, sendo geralmente mais elevada no tronco do que nas extremidades, e, dentro do tronco, maior nas regiões posteriores e mediais. A concentração de sódio no suor também apresenta ampla variação intraindividual, de 80 a 120%, refletindo diferenças na atividade e densidade das glândulas écrinas. Observa-se, entretanto, simetria bilateral entre lados contralaterais, e pequenas diferenças (7–12%) entre as faces dorsal e ventral do antebraço carecem de relevância prática. A padronização do local de coleta é, portanto, uma medida essencial para reduzir o ruído experimental e garantir comparabilidade entre ensaios.

Em termos populacionais, a variabilidade interindividual é ainda mais expressiva. Em atletas, as taxas de sudorese podem variar de 0,5 a 2,0 L·h⁻¹, chegando a ultrapassar 3,0 L·h⁻¹ em condições extremas. Já a concentração de sódio pode oscilar entre 10 e 90 mmol·L⁻¹ em coletas locais, e entre 10 e 70 mmol·L⁻¹ em coletas de corpo inteiro. Essa amplitude reflete uma interação complexa entre fatores ambientais, morfológicos e genéticos, além de diferenças metodológicas. Temperatura, umidade relativa, radiação solar e ventilação influenciam diretamente o equilíbrio térmico, modulando a produção de suor. O uso de roupas e equipamentos de proteção, ao limitar a dissipação de calor, pode elevar substancialmente a taxa de sudorese, sem aumento proporcional da eficiência evaporativa — especialmente em ambientes úmidos.

Aspectos morfológicos, como o volume e a densidade das glândulas écrinas, explicam parte da diversidade observada. O volume glandular pode variar até cinco vezes entre indivíduos, e há correlação positiva entre o tamanho das glândulas, a sensibilidade à metacolina e a taxa secretora máxima. O treinamento aeróbico e a aclimatação ao calor promovem hipertrofia glandular e aumentam a sensibilidade colinérgica, resultando em maior capacidade secretora e melhor eficiência termorregulatória.

A regulação da sudorese é controlada tanto por mecanismos centrais quanto periféricos. O aumento da temperatura corporal central (Tc) desencadeia o início da sudorese por meio de mecanismos hipotalâmicos, definidos por um limiar de ativação e uma sensibilidade da resposta. O treinamento físico e a aclimatação reduzem o limiar e ampliam a sensibilidade, enquanto a desidratação e o envelhecimento tendem a ter o efeito oposto. Outros fatores, como o ciclo menstrual, o ritmo circadiano, a altitude e a maturação fisiológica, também influenciam a resposta sudorípara, embora nem sempre resultem em diferenças significativas na perda total de suor.

A concentração de sódio no suor é fortemente modulada pela reabsorção ductal, processo ativo mediado pela bomba Na⁺/K⁺-ATPase, cuja atividade é regulada pela aldosterona. Com a aclimatação ao calor, ocorre aumento da expressão dessa bomba, resultando em maior reabsorção de sódio e, portanto, em menores concentrações de Na⁺ no suor. A ingestão dietética de sódio também desempenha papel relevante: dietas ricas (8–9 g/dia) elevam a concentração de Na⁺, enquanto dietas restritas (1–2 g/dia) reduzem-na significativamente. Além disso, o aumento da taxa de fluxo do suor durante exercícios intensos reduz o tempo de trânsito ductal, diminuindo a eficiência da reabsorção e elevando a concentração final de sódio.

Durante exercícios prolongados, pode ocorrer hidromeiose — uma redução da secreção de suor causada pela saturação hídrica da pele. Esse fenômeno reduz a taxa de sudorese e a concentração de sódio, mas tende a ser atenuado em indivíduos aclimatados e bem treinados, cujas glândulas tornam-se mais resistentes à inibição induzida pela umidade.

Fatores étnicos, clínicos e farmacológicos também interferem na sudorese. De fato, as diferenças étnicas observadas parecem estar mais associadas à adaptação climática do que a determinantes genéticos. Condições clínicas, como fibrose cística, doença de Addison e insuficiência renal, podem elevar significativamente a concentração de sódio no suor. Na fibrose cística, a ausência do canal CFTR funcional impede a reabsorção adequada de Na⁺ e Cl⁻, resultando em concentrações até cinco vezes superiores às de indivíduos saudáveis.

Considerando a magnitude dessas variações, é fundamental adotar boas práticas metodológicas nos testes de suor. Recomenda-se a padronização das condições ambientais, da intensidade do exercício, do local e método de coleta, dos procedimentos de limpeza e armazenamento, e do controle dietético e hídrico pré-teste. A interpretação dos resultados deve levar em conta a variabilidade natural — estimada em cerca de 5–7% para a taxa de sudorese e 10–15% para a concentração de sódio — e priorizar classificações por faixas (baixa, moderada ou alta perda hídrica e salina) em vez de valores absolutos.

Em síntese, as diferenças metodológicas e fisiológicas representam importantes fontes de variabilidade nos testes de suor, podendo distorcer comparações e interpretações. A padronização dos procedimentos e o controle rigoroso das variáveis experimentais são fundamentais para garantir a validade científica e a utilidade prática dos resultados. Quando conduzidos de forma criteriosa, os testes de suor se configuram como ferramentas valiosas para estimar as perdas individuais de água e eletrólitos, subsidiando a formulação de estratégias personalizadas de hidratação e reposição mineral. Tais práticas contribuem para otimizar o desempenho atlético, reduzir o risco de distúrbios relacionados ao calor e aprofundar a compreensão dos mecanismos fisiológicos que sustentam a termorregulação humana.

Referências:

Baker LB. Sweating Rate and Sweat Sodium Concentration in Athletes: A Review of Methodology and Intra/Interindividual Variability. Sports Med. 2017 Mar;47(Suppl 1):111-128.