Imagine que um navegador medieval recebesse um moderno GPS: embora a tecnologia fosse avançada, seu valor seria limitado se ele não soubesse interpretar os mapas ou seguir os sinais. De modo semelhante, no treinamento esportivo, tecnologias sofisticadas só geram benefício real quando acompanhadas de compreensão e orientação adequadas. Nesse contexto, o Moxy Monitor surge como uma ferramenta capaz de fornecer informações precisas sobre a fisiologia muscular durante o exercício, permitindo que atletas e treinadores saiam do “treino às cegas” e tomem decisões mais fundamentadas.
O Moxy Monitor utiliza espectroscopia no-infravermelha (NIRS) para medir continuamente a saturação de oxigênio muscular (SmO₂) e o conteúdo relativo de hemoglobina + mioglobina no músculo sob o sensor (tHb ou THb). Esses parâmetros fornecem dados sobre a relação entre a entrega e o consumo de oxigênio no músculo ativo, permitindo interpretações detalhadas do comportamento metabólico local. Embora o Moxy não substitua testes de consumo máximo de oxigênio (VO₂max), análise ventilatória ou mensuração de lactato para definição de limiares metabólicos, como o primeiro limiar de ventilação (VT1) e o segundo limiar de ventilação (VT2), ele permite inferir mudanças de regime metabólico no músculo e complementar os métodos tradicionais com informações locais.
Na prática, durante um teste incremental, a SmO₂ e o THb podem ser interpretados de forma a indicar transições metabólicas aproximadas. Em intensidades baixas a moderadas, antes de atingir limiares, a SmO₂ tende a permanecer relativamente estável ou sofrer queda moderada, indicando que o músculo aumenta gradualmente a extração de oxigênio. O THb pode apresentar pequenas elevações ou oscilações, refletindo ajustes hemodinâmicos locais. À medida que a intensidade aproxima-se do limiar metabólico, correspondente ao VT1, observa-se frequentemente uma queda mais acentuada da SmO₂, sinalizando que a extração de oxigênio se aproxima do equilíbrio frente à entrega, enquanto o THb pode estabilizar-se ou iniciar ligeiro declínio, caso a perfusão não acompanhe totalmente a demanda. Em intensidades próximas de VT2, a SmO₂ tende a cair de forma contínua e pronunciada, indicando que o músculo está utilizando quase todo o oxigênio disponível, enquanto o THb pode não crescer ou mesmo apresentar leve declínio, sugerindo limitação na perfusão local. É importante salientar que não existe um valor universal de SmO₂ ou THb que defina automaticamente VT1 ou VT2; a interpretação requer análise individual, considerando modalidade, músculo envolvido e integração com outros dados fisiológicos.
O papel fundamental do Moxy Monitor está justamente na capacidade de complementar os dados de testes tradicionais, como VO₂ ou análise ventilatória. Enquanto estes avaliam a resposta global do organismo — incluindo consumo de oxigênio, ventilação e lactato sanguíneo —, o Moxy fornece uma visão localizada do que ocorre no músculo ativo, permitindo identificar se uma limitação ao desempenho está mais relacionada à entrega de oxigênio, à extração ou à perfusão local. Essa camada adicional de informação permite ajustes mais precisos na intensidade, volume, técnica e recuperação, tornando o treinamento mais individualizado e eficaz.
Embora a maior parte das pesquisas sobre o Moxy tenha sido conduzida em modalidades como ciclismo e corrida, a tecnologia apresenta aplicabilidade em diferentes esportes de endurance e potencial para uso em natação, oferecendo monitoramento da musculatura envolvida na propulsão. Dessa forma, o Moxy Monitor não apenas enriquece a interpretação dos testes tradicionais, mas também permite decisões de treino mais embasadas, contribuindo para o desenvolvimento do desempenho atlético de forma segmentada, prática e baseada em evidências.